Entrevista exclusiva: Alcione, a artista que transcende gerações

 Entrevista exclusiva: Alcione, a artista que transcende gerações

Divulgação

Alcione Marrom completa 50 anos de carreira este ano e, em turnê pelo Brasil, Cuiabá foi uma das cidades escolhidas para a musa – tantas vezes homenageada por escolas de samba na Sapucaí – se apresentar.

Na oportunidade, em entrevista exclusiva ao Cuiabá Tem, a Dama do Samba lembrou um pouco de sua trajetória e se emocionou ao contar dos seus pais, essenciais para que ela apostasse desde cedo na música, além de outros momentos cheios de felicidade, que a consolidaram como uma das vozes populares mais queridas e respeitadas do país.

Eternizou com sua voz canções como ‘Não Deixe o Samba Morrer’, ‘A Loba’ e ‘Meu Ébano’. Até o momento, sua discografia conta com 30 álbuns de estúdio, 9 álbuns ao vivo e 7 compilações. Com eles, ela já vendeu mais de oito milhões de discos pelo planeta. Isso, desde a era que as plataformas de áudio ainda não existiam e para se ter um disco, era preciso disputa-lo em uma loja. Desta maneira, considera-se imensurável as proporções que este grande nome da música ecoa até hoje. Sentada em seu trono, próxima ao palco, foi onde a vaidosa mulher recebeu a equipe, cheia de paetês e anéis pelos dedos, olhar fixo e de sorriso largo, a reportagem começa num bate-papo emocionante. Confira os melhores trechos da entrevista!

Show da Alcione em Cuiabá
Mirella Duarte entrevista Alcione Marrom / Imagens: Cuiabá Tem

Alcione, você é uma das vozes mais amadas do país, começou a cantar ainda menina, com incentivo dos seus pais, em especial seu pai. Naquela época mulheres que cantavam nem sempre eram bem vistas socialmente, mas você sempre se posicionou de maneira muito firme. Qual acredita ter sido o seu grande segredo e diferencial para completar, hoje, esses 50 anos de carreira? 

ALCIONE: Quando a gente faz o que gosta, o tempo passa muito rápido. Nem percebi, quando eu vi, já tinha se passado 50 anos. Meus pais foram fundamentais para eu acreditar no meu potencial. Cresci em uma casa muito musical e, desde muito novinha, com 12 anos, eu cantava e tocava alguns instrumentos. Já sabia que meu destino seria a música e meu pai sempre me ensinou a ter um posicionamento muito firme com a vida. Então nunca deixei que algumas coisas me tirassem do eixo ou me abalassem, fui acertando meu caminho. Não desistir foi uma parte fundamental pra esse processo, porque os desafios sempre vão existir, somos nós quem precisamos nos posicionar de maneira firme com eles.

Você é uma lenda viva, fez grandes parcerias musicais com outras mulheres do samba e música popular brasileira, tanto cantando com elas, quanto compartilhando composições. Podemos mencionar algumas como, Maria Bethania, Clara Nunes, Gal Costa e muitas outras. Qual a sensação de ter feito tanta arte com mulheres tão importantes quanto você, na música brasileira? 

ALCIONE: As mulheres são parte fundamental na música, especialmente no samba, nossa saudosa Ivone de Lara é também a prova maior disso. Me sinto honrada por ser parte da história de cada uma delas e honrada por elas também terem feito parte da minha. Foram muitas composições gravadas e compartilhadas entre grandes nomes e a música é isso, encontro e sintonia. Ela atravessa qualquer barreira e conecta as pessoas. Sou grata!

Cuiabá também é uma terra ancestral, território indígena, quilombola, de muita luta e gente que ama o samba – você é inspiração para muitas gerações aqui e no Brasil. Eu também te ouço desde criança, na vitrola da minha avó, ela tinha um vinil com uma foto linda sua na capa. Sei que sua mensagem ultrapassa os sentidos da música, quando funda e apoia projetos como A Mangueira do Amanhã [escola de samba mirim que faz parte do Programa Social da Mangueira]. Qual sua principal motivação para iniciativas como esta?

ALCIONE: O samba não pode morrer, como diria na canção, sempre senti que essa seria uma das minhas missões. Ele salva vidas e as gerações precisam ser ensinadas nessa continuidade, justamente por ser ancestral, por contar a nossa história, a minha, a sua e de tanta gente que compreende essa mensagem. Não é à toa que quando lancei Não Deixe o Samba Morrer, que foi um grande presente confiado a mim e composta pelo Edson Conceição e Aloísio Silva – em  1975, e ganhamos as paradas de sucesso. Ela ficou duas semanas em primeiro lugar nas rádios. Isso era muito difícil, era quando as pessoas pediam muito para tocar, e ela tornou-se imortal a partir daí. O samba não pode morrer e pra isso precisamos que ele continue em outras vozes e outras gerações. 

Este mês celebramos, no mesmo dia do nascimento de Dona Ivone de Lara [13 de abril], o dia que agora foi instituído como Dia Nacional da Mulher Sambista. Graças a Ivone e muitas outras mulheres fundamentais para o samba, como você, temos essa data que significa muito para todas nós. Aqui no palco estão tocando, até o momento, o único grupo feminino de samba em Mato Grosso [Sasminina]. Qual conselho e mensagem você poderia dar a essas mulheres e tantas outras que tem este sonho de viver da arte?

ALCIONE: Não desistam, sejam fortes, resilientes e confiem no próprio taco. A música pode nos levar a lugares que nem mesmo nós podemos imaginar, mas que vão muito além. Confiem no seu potencial e não desistam. Vou dar este recado!

Alcione finalizou a entrevista com abraços, beijos e bençãos. Levantou-se e foi até palco, antes de sua apresentação oficial, acolheu as sambistas e as parabenizou em frente ao público.

Essa é a Voz do Samba, A Loba! Desejamos saúde e vida longa! Porque eterna, ela já é. 

Alcione no Musiva
Equipe do Cuiabá Tem registrando momento da entrevista com Alcione nos bastidores