Rondon tentou evitar o pior de “Indiana Jones” em Mato Grosso

 Rondon tentou evitar o pior de “Indiana Jones” em Mato Grosso

Rondon na juventude – enquanto mapeava trecho da Mata Atlântica

Mato Grosso é repleto de lugares que reservam muitas histórias, além de lendas, solos místicos, santuários e até de relatos de contato com extraterrestres, como, por exemplo, Barra do Garças (a 511 km de Cuiabá), que tem até um discoporto e leva a lenda de ter o portal da Cidade Z, na Serra do Roncador. Histórias que atravessaram o lugar serviram de inspiração para uma das mais clássicas produções de aventura de Hollywood, a série de filmes Indiana Jones – do cineasta Steven Spielberg.

Todavia, o Cuiabá Tem, antes de entrar em alguns dos mistérios que atravessam essa narrativa, que apesar de ter bastante foco na trajetória de Percy Fawcett, (mesmo que, diante de algumas hipóteses fantasiosas), não à toa, inspirou a criação de um hit de cinema, vem elucidar alguns fatos – como a de uma figura local, com destaque de bravura e, em instituições de relevância nacional e internacional, é tido como um herói. Sim, para quem aprecia história regional – sabe que Cândido Mariano Rondon tentou impedir que Percy Fawcett viajasse sozinho. Mais do que isso, ofereceu ajuda. Porém, foi ignorado.

No desenrolar da trama, antes que pareça exagero, vai ser possível compreender alguns pontos dessa história e do porque ela se tornou tão popular, mesmo que nem seja tão difícil assim imaginar o que poderia dar muito errado – e deu. 

Há poucas semanas o fato voltou a viralizar na internet – devido a um programa da GNT (TV por assinatura da Globosat), “Avisa Lá que eu Vou“, apresentado por Paulo Vieira na Rede Globo.

Em entrevista, um dos personagens que relata sobre a cidade é Genito, e ele fala sobre a história do coronel britânico Percy Fawcett, profissional que alegava ser experiente, mas que desapareceu em uma expedição pelas matas do Centro-Oeste brasileiro. Seu desaparecimento foi dado em meados de maio de 1925, após enviar a última carta a esposa e, sem mais notícias,  motivou diversas outras expedições (e por quê não dizer obsessão) à sua incessante procura (ou, quem sabe, do que ele também procurava).

Rondon foi indicado ao Nobel da Paz por Albert Einstein, ele conseguia passar pacificamente pelas matas e dialogava com grupos indígenas diversos/ Foto: Arquivo público de MT

Antes da viagem, como mencionado anteriormente, o aventureiro foi avisado por Rondon e, além dele, lideranças indígenas de diferentes grupos – para que não avançasse por alguns territórios. Inclusive, por poder esbarrar com os “Índios Morcegos”, tidos como canibais e pouco amigáveis, além de doenças que o europeu não estava habituado, animais perigosos e outras motivações. Percy resolveu insistir, montou um grupo pequeno e, entre eles, um que mal sabia montar a cavalo, chegou a acampar até em cima de formigueiro e, pela insistência do estrangeiro em viajar sozinho, Rondon chegou a desconfiar de que Percy, na verdade, estivesse em busca de ouro – já que, pouco tempo antes, ele havia tentado comprar uma mina no interior da Bahia.

É bom destacar que Rondon foi o principal responsável pela instalação das telecomunicações brasileiras, avançando mata adentro, por diferentes biomas, mapeando regiões durante boa parte de sua vida ao percorrer destinos através de solo firme ou vias fluviais.  De importância não só para o avanço tecnológico de  Mato Grosso, mas de toda Bacia Amazônica Ocidental.

Isso também foi possível por seu apoio e bom diálogo com às populações indígenas brasileiras, algumas delas, que tinha parentesco – como os bororos, que transitavam por onde hoje também se localiza a Baixada Cuiabana. Sua luta resultou também na criação do Parque Indígena do Xingu, que é a maior e mais importante reserva indígena brasileira. Por estes e outros feitos, além de honrarias, Mariano Rondon foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, pela sugestão de nada mais e nada menos do que a do gênio cientista Albert Einstein.

Rondonópolis em 1956. Em sua homenagem, o território de Guaporé passou a denominar-se Rondônia/ Arquivo Público Nacional

Existem inúmeras hipóteses levantadas ao longo de todos estes anos, mas o fato é que, aparentemente, é mais fácil acreditar que existe mesmo uma cidade mística na Serra do Roncador, em Mato Grosso, hipótese que ergueu a publicação de inúmeros livros e uma industria cinematográfica milionária, além de motivar outras expedições em busca do “infalível” e sonhador Percy Fawcett, do que validar a experiência de quem o avisou que, as terras de Mato Grosso e outros territórios por estes horizontes poderiam ser letais, mais do que, talvez, a visão eurocentrada fosse capaz de reconhecer.

Brian (filho do aventureiro), em uma de suas expedições, com Comatzi, o chefe dos Kalapalos

O livro mais recente lançado sobre o tema é A Expedição Fawcett – Jornada para a Cidade Perdida de Z (Record, 2023), originalmente publicado em inglês no ano de 1953 e com autoria do filho do aventureiro, Brian Fawcett. Na obra estão reunidas cartas, diários e manuscritos do inglês – enviados por ele mesmo, antes que ele desaparecesse do mapa. O autor do livro, Brian, morreu em 1984, aos 78 anos. Em 2025 completa 100 anos do desaparecimento de seu pai, Percy. Veja também uma das produções sobre Rondon!